Os pepinos-do-mar (Holothuroidea ) são valorizados no mercado asiático por suas propriedades nutricionais e medicinais, sendo comercializados frescos, secos e congelados. A alta demanda e os preços elevados intensificam a captura global, levando à sobre-exploração e risco de extinção. No Brasil, a espécie nativa Holothuria grisea ocorre do Nordeste ao sul de Santa Catarina, em águas entre 22 °C e 30 °C. A pesca não é regulamentada, e a falta de fiscalização dificulta avaliar seu impacto econômico e ambiental. A aquicultura surge como alternativa para atender à demanda e aliviar a pressão sobre os estoques naturais. Sistemas multitróficos integrados (IMTA) destacam-se por reaproveitar resíduos e promover equilíbrio ecológico. Contudo, o cultivo de H. grisea requer melhor compreensão de sua fisiologia e tolerância a temperaturas elevadas usadas no cultivo de peixes e camarões.
No intuito de avaliar a tolerância térmica superior aguda de H. grisea , indivíduos foram coletados manualmente na região entremarés da enseada do Itapocorói, Penha/SC, e aclimatados por 21 dias em tanque planos à temperatura de 26 °C, sendo alimentados com macroalgas. O experimento consistiu na exposição de indivíduos a 5 faixas de temperatura, 26 °C (controle), 30 °C, 34 °C, 38 °C e 42 °C, em unidades experimentais independentes mantidos por 96h. Cada tratamento contou com 12 indivíduos, distribuídos em três repetições. Durante este período, foram monitoradas taxas de sobrevivência, mortalidade, evisceração e parâmetros físico-químicos da água (pH, salinidade, oxigênio dissolvido, amônia e nitrito). Os parâmetros da qualidade da água permaneceram dentro dos valores ideais para a espécie em todos os tratamentos. Os animais não foram alimentados durante o experimento.
Os resultados indicam que nos tratamentos controle (26,9 ± 0,1 °C) e 30 °C (30,5 ± 0,2 °C) houve 100% de sobrevivência sem registro de evisceração ou mortalidade. A 34 °C (34,0 ± 0,2 °C), observou-se 100% de evisceração em 48 horas. Um grupo de animais eviscerados nesse tratamento foi mantido sob observação até completar as 96 horas sob a mesma temperatura, apresentando 91,67% de mortalidade, com tempo médio para 50% de morte (LT50) de 50 horas. No tratamento a 38 °C (37,4 ± 0,2 °C), os indivíduos apresentaram 100% de mortalidade em até 4 horas (LT100), e no tratamento de 42 °C (41,1 ± 0,4 °C), também houve mortalidade total em até 2 horas (LT100). Em ambos os tratamentos não foram observadas eviscerações prévias à mortalidade. A curva de Kaplan-Meier indicou que os eventos de evisceração começaram pouco após o início do experimento e continuaram até cerca de 44 horas de exposição. Quanto à sobrevivência, as curvas evidenciaram mortalidade total em até 4 horas nos grupos de 38 °C e 42 °C .
As análises revelam que H. grisea possui estreita tolerância térmica, com uma temperatura estimada de evisceração de 50% da população de 31,7º C e evisceração de todos os indivíduos a 34 °C. A LT50 estimada foi de 33,0ºC e mortalidade aguda observada em temperaturas ≥37,4 °C. Esses achados são essenciais para o manejo térmico no cultivo de H. grisea, especialmente em sistemas IMTA, contribuindo para uma aquicultura mais sustentável no Brasil.