ANÁLISE DO EFEITO DA CONTAMINAÇÃO DE GLIFOSATO NO CAMARÃO DE ÁGUA DOCE Macrobrachium rosenbergi: EFEITO LETAL, NEUROTÓXICO E SOBRE O SISTEMA ANTIOXIDANTE

Jorge E. G. Parra.*; Andrea B. Moraes*; Alexandre M. Santos*; Ana T. B. Guimarães#; Luisa H. Cazarolli; Silvia Romão*
* Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Laranjeiras do Sul, Paraná, Brasil
# Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Cascavel, Paraná, Brasil
 

O Brasil é um pais agrícola, fazendo uso de diversos insumos químicos entre esses destaca-se o glifosato, altamente utilizado em lavouras de soja e milho e com risco potencial de contaminação de solo e água das áreas rurais. O aumento do cultivo continental do Camarão de água doce M. rosenbergii, em regiões próximas a grandes áreas rurais leva ao questionamento sobre o efeito da contaminação por glifosato nestes animais. Este trabalho teve o objetivo de analisar o efeito do glifosato sobre a mortalidade e fisiologia de M. rosenbergii. Para o ensaio de CL50 os animais foram separados em 15 aquários de 4 litros, 05 animais por aquário, aclimatados por 3 dias e contaminados por período de 96 horas com concentrações de 0, 10, 50, 100 e 150 mg/L de glifosato, em triplicata. Após o registro das mortes a CL50 foi estimada por PROBIT. Assim como identificada alterações no comportamento dos animais. Para o ensaio de contaminação curto prazo os animais foram agrupados em 12 aquários de 4 litros, 04 animais por aquário, aclimatados por 3 dias e separados em 6 grupos controles e 6 experimentais. Os grupos experimentais foram contaminados com 100 mg/L de glifosato em período de exposição de 2, 6, 9 e 24 horas. Foi realizada coleta de hepatopâncreas e músculo para análises de marcadores bioquímicos de neurotóxicidade (colinesterase), e do sistema antioxidante (peroxidação lipídica - LPO e enzimas catalase - CAT, glutationa-S-tranferase - GST).  A CL50 foi estimada em 125,63 mg/L (48 horas), 68,38 mg/L (72 horas) e 52,52 mg/L (96 horas). Em animais submetidos ao glifosato foi observado agitação, seguida de paralisia nos animais em período de 2 a 10 horas após a contaminação ou troca diária de água por água contaminada. Animais submetidos a 24 horas de exposição a 100mg/L de glifosato apresentaram paralisia em 2, 6 e 9 horas após a contaminação, retornando ao padrão de movimentação semelhante ao controle em 24 horas, o que se assemelhou à alterações de comportamento percebidos na CL50. Houve inibição da colinesterase em hepatopâncreas em 2, 6 e 9 horas após a contaminação, sendo a inibição máxima encontrada em 6 horas e ausência de inibição observada após 24 horas. A GST apresentou aumento da atividade em hepatopâncreas após 2, 9 e 24 horas de contaminação (fig. 02). A CAT apresentou elevação da atividade em hepatopâncreas, 2 horas de contaminação. Não foi observada alterações de LPO de músculo e hepatopâncreas ao longo do ensaio. Os valores de CL50 encontrados indicam que o glifosato é tóxico para M. rosenbregii. Os resultados fisiológicos demonstram que simultaneamente a inibição da colinesterase, ocorre indução de reação de biotransformação do glifosato via GST, reduzindo, com isso, o efeito neurotóxico do glifosato ao longo do tempo, e garantindo o retorno da atividade da colinesterase e do comportamento natatório aos níveis observados nos animais controles. Mesmo não ocorrendo morte por glifosato, períodos logo após a contaminação deixam os animais suscetíveis a fatores ambientais, aumentando o risco de morte.